quarta-feira, 21 de julho de 2010

Crepúsculo



A lua serena
Inunda-me os sentidos
Envolvendo-me num
Estreito abraço
Que perdura além
Do toque de pele
Num momento surreal.
Alcançam-me
Vozes e sussurros
Que vagueiam ao longe,
E eu digo que sim
Sem convicção,
Mas sinto-me 
Encarcerada no tempo,
Algures num plano
Indistinto que
Me capturou
Num perpétuo acordar.
As palavras sucedem-se,
Frases desconexas
De quem teme acreditar,
Pensamentos que se prolongam
Num fio desordenado...
E a mim, parece-me
Que a madrugada
Tarda em chegar
Neste sonho ambíguo
Em que os corvos voam
Num crepúsculo eterno...

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Ponto


Tudo se resume a um ponto.

De interrogação ou dúvida,
De exclamação e júbilo,
De paragem no tempo
Deixando o coração suspenso
E a imaginação livre
Para vogar rumo ao nada
Que o silêncio seduz....

Ponto de passagem rumo ao destino,
Ponto de encontro e desencanto,
Ponto que preenche o vazio
Deixado por sinfonias de um
Passado incompleto.....

Ponto final. Ou talvez não.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Encruzilhadas


Os pratos da balança nunca estão equilibrados por muito tempo. Movem e alternam-se consoante a maré, os astros, o humor ou o irrelevante. É impossível prever o que se segue, ou para que lado vai soprar a aragem, e ainda bem, pois de contrário significaria que a minha vida se tinha tornado demasiado monótona para ser vivida.

E saboreada.

Lenta e pausadamente, degustando sorrisos doces e recordações salgadas, euforias picantes e contemplações lânguidas, ânsias incompletas e plenitude… Este é o ciclo eterno que faz de nós aqueles seres únicos e especiais que almejam a lua; somos a soma de derrotas e vitórias, de receios e encantos, de desejos e frustrações.

E para adicionar aquele “je ne sais quoi” à ínfima porção de alma que ainda se mantinha serena, a vida é ininterruptamente feita de escolhas, de um extremo ao outro... À medida que avançamos é-nos incutida a importância da “decisão” nos mais variados meandros, de tal forma, que frequentemente a vida se assemelha a uma sequência de cruzamentos e rotundas ao longo de um percurso com variantes e alternativas infinitas.…. 

Frequentemente sonho acordada e lamento não podermos deslocar-nos no espaço temporal… Nunca saberemos se algures no passado tivéssemos optado por “virar no segundo cruzamento à direita”, estaríamos a viver uma realidade completamente diferente. O pior é quando nos faltam as palavras, ou não se age impensadamente naquele momento certo que pode nunca mais voltar…..

As eternas encruzilhadas não são, só por si, um problema. O problema materializa-se quando algo continua a bater à janela ou a insinuar-se nos sonhos de mundos alternativos e coloridos, que dão vontade de experimentar nem que seja apenas por uma única vez (mas quem é que eu estou a querer enganar, uma única vez????)… A razão tenta considerar irrelevante o que lhe suscitou a atenção, mas não há regra matemática ou pensamento filosófico que lhe valha durante muito tempo. 

Podem decorrer um, dois, ou dez anos…… A cada reencontro o tempo pára e recua, e o mesmo se sucede, uma, outra e outra vez…. Dez anos é muito tempo para um coração palpitar discretamente….. Até um dia. Ou se descobre que se viveu numa ilusão, ou se avança para o lado de lá do espelho.

E continua a marcha, até à próxima rotunda. 

domingo, 4 de julho de 2010

Verdadeiro Mundo



Sim, de mãos dadas ao infinito 
Que os meus olhos abraçam,
Contemplo o mundo
Com um novo sorriso…
O meu verdadeiro mundo.
Na lágrima que me
Acaricia o rosto unem-se
Fogo e água, qual
Esboço de sonhos, qual
Possível certeza, qual
Aforismo que nos persegue
Escondido nas sombras da lua,
Noite após noite,
Receoso que o amanhã
Deixe de fazer sentido
Na génese  impulsiva
Que me consome…
Da fogueira libertam-se ondas
De sol, lua e mar,
Preenchendo  passado e presente,
Desenhando o nosso futuro
Na tela de aguarelas que pintas
Com o teu olhar e o teu sorriso...
Sim, de mãos dadas ao infinito
Sinto o bater do teu coração
No som ritmado que ecoa em mim…
No nosso verdadeiro mundo.