A música longínqua pincela as paredes como se brincasse numa tela perdida, concentrando cada olhar errante na memória de um reconhecimento de algo há muito roubado. Avassalam-me as notas reverberantes que me invadem, e sustentam o olhar perdido que se reflecte no outro lado do espelho… A melodia penetra a barreira que simultaneamente me isola de um mundo de marionetas com o qual não me identifico, e impede a revelação da minha verdadeira luz…
Fecho os olhos sussurrando os acordes que pulsam em meu redor e viajo para longe, para cima, rumo a uma dimensão que nunca ousei descobrir… Talvez porque nunca se me tenha deparado a oportunidade de cruzar as suas portas ou não tenha surgido quem me acompanhasse…
E repentinamente, enquanto divago nas ondas de um mar adormecido, surges como se o cruzar dos nossos caminhos fossem um acaso fortuito do destino. Olhas em sentido oposto, fingindo não me ver, mas algo discreto se evidencia, expectante….. Entre nós encontra-se um abismo que ora se fortalece ora vagueia através da bruma…. Murmuraras suavemente: “Diz-me meu Amor, o que é que bebes?”
Continuo a falar, mas não te transmito os pensamentos que passam velozmente pela minha mente ... Para onde me fugiram as palavras?????
Como hei-de expressar que bebo o teu perfume, o teu olhar, o teu carinho, bebo o som doce da tua voz e o teu sorriso porque de momento não posso embriagar-me senão nos meus sonhos, apenas para te ouvir dizer: “Diz-me meu Amor, o que é que bebes?”
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