quarta-feira, 14 de julho de 2010

Encruzilhadas


Os pratos da balança nunca estão equilibrados por muito tempo. Movem e alternam-se consoante a maré, os astros, o humor ou o irrelevante. É impossível prever o que se segue, ou para que lado vai soprar a aragem, e ainda bem, pois de contrário significaria que a minha vida se tinha tornado demasiado monótona para ser vivida.

E saboreada.

Lenta e pausadamente, degustando sorrisos doces e recordações salgadas, euforias picantes e contemplações lânguidas, ânsias incompletas e plenitude… Este é o ciclo eterno que faz de nós aqueles seres únicos e especiais que almejam a lua; somos a soma de derrotas e vitórias, de receios e encantos, de desejos e frustrações.

E para adicionar aquele “je ne sais quoi” à ínfima porção de alma que ainda se mantinha serena, a vida é ininterruptamente feita de escolhas, de um extremo ao outro... À medida que avançamos é-nos incutida a importância da “decisão” nos mais variados meandros, de tal forma, que frequentemente a vida se assemelha a uma sequência de cruzamentos e rotundas ao longo de um percurso com variantes e alternativas infinitas.…. 

Frequentemente sonho acordada e lamento não podermos deslocar-nos no espaço temporal… Nunca saberemos se algures no passado tivéssemos optado por “virar no segundo cruzamento à direita”, estaríamos a viver uma realidade completamente diferente. O pior é quando nos faltam as palavras, ou não se age impensadamente naquele momento certo que pode nunca mais voltar…..

As eternas encruzilhadas não são, só por si, um problema. O problema materializa-se quando algo continua a bater à janela ou a insinuar-se nos sonhos de mundos alternativos e coloridos, que dão vontade de experimentar nem que seja apenas por uma única vez (mas quem é que eu estou a querer enganar, uma única vez????)… A razão tenta considerar irrelevante o que lhe suscitou a atenção, mas não há regra matemática ou pensamento filosófico que lhe valha durante muito tempo. 

Podem decorrer um, dois, ou dez anos…… A cada reencontro o tempo pára e recua, e o mesmo se sucede, uma, outra e outra vez…. Dez anos é muito tempo para um coração palpitar discretamente….. Até um dia. Ou se descobre que se viveu numa ilusão, ou se avança para o lado de lá do espelho.

E continua a marcha, até à próxima rotunda. 

1 comentário:

Dora Pica disse...

Amiga...tu és eu e eu sou tu. Dez anos...sem tirar nem pôr e a caminhar insegura, de pernas bambas e o coração cheio (quase a rebentar) para o lado de lá do espelho...
Novidades a cada esquina, que nos fazem optar...e seguir muitas vezes mais o coração errante e errático correndo o risco de sofrer e fazer doer do que não sentir de todo.
Viver é sentir e eu quero sentir a vida pulsar em mim novamente...quero sentir o meu sangue e saborear o salgado e o doce da vida...
O tempo e a vida pregam-nos cada partida...dez anos é uito tempo para calar um sentimento...é como suster o Tejo com um dique de castores... ...vai acabar por ceder uma dia.
Beijos