sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Ecos

O órgão ecoa pela Catedral... Ecos de fantasmas buscam a luz diáfana que penetra através dos vitrais descolorados pela passagem do tempo...

Esta noite, majestade e servidão encontram-se lado a lado, percorrendo as alas em lenta procissão. A musicalidade dos cânticos ressoa ainda em cada pedra, em cada imagem, em cada pintura.... Como que um chamamento, a energia parte da Ara e propaga-se como se de uma invocação se tratasse. As velas cintilam lugubremente, conferindo uma aura mística às lajes em ruínas, onde repousam os meus restos mortais.

Hinos de outrora ressuscitados para os heróis e poetas de amanhã numa busca incessante de vida, renovam-me com laivos de saudade, da queda no ressurgir da obscuridade.... Da minha queda, do meu mergulho no mar desconhecido e revolto, que me transporta através das teias do tempo, como num filme mudo a preto e branco, sem início nem fim.

Passa diante dos meus olhos a eterna caminhada que a divindade profana percorre de olhos vendados.... Invoco o presente, o passado e o futuro nesta noite ambígua em que mortais e imortais olham o infinito como se fosse a última vez…

12 comentários:

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

Uma visão inequivocamente sublime e, simultaneamente, solene.

Gostei muito ^^

Beijinhos!

bat_thrash disse...

É na visão que o objeto e o pensamento se encontram. É o portal de pérolas, entre o sol e a mente. O olho humano é um espelho, onde o espaço criativo da consciência divina se encontra consigo mesmo no espaço criado do lado de fora.
Gostei imenso do texto!

Bat kiss.

Anónimo disse...

Querida Bloody, vim aqui e me deixei goticizar (rsrs) através de seu texto, aspirei a poeira do tempo e me inspirei com a sua viagem. Fechei os olhos e psicografei uma história estranha que deixo aqui pra você...

"Ecos cinzas de sombras escondidas
Ocultos de tudo
A não ser do azul dos olhos
Do cego da esquina
Olhos azuis de sombras cinzas
Mortas retinas
Ecos de tudo
Cacos de vida retida
Sentidos sem cores
Como dobres de sinos obscuros
Tesouros sem ouro
Sem valor estimado
Enraizado no passado
Sem ecos no futuro
Um grito de um mudo
Um urro vermelho
O sangue no espelho
E o eco da faca
Que badala no chão
E em vão se vão
Aqueles que não escutam
Os ecos dos próprios passos
De pés que flutuam
De vozes que suspiram
De mãos que se afastam
Das sombras da escuridão
Como um eco prateado
A vida se esvai
Sem vôos alados
Sob a chuva que cai
Os ecos cada vez mais distantes
Nada é como antes
Sem cores, sem nada
A vela apagada
E o eco abafado
Do último passo dado
A linha de chegada
A morte e mais nada"

Beijos O+ do seu amigo co-sanguíneo.
Até!

Anónimo disse...

Qurida Bloody, roupa preta no tórrido clima equatorial/tropical, com esse modorrento bafo úmido e quente do dia... Bem, deixemos pra climas mais europeus, onde alguns ainda se podem dar ao luxo de se pensarem ser góticos - OK, pode ser um estilo de vida, sei lá, mas é um anacronismo sem par; ainda mais àqueles que se julgam "donos" desse estilo, se é que você me entende...
Bijos O+, como sempre.

DarkViolet disse...

Sons em espaço amplo cria o retorno do eco para si mesmo. O infinito prolongar das estações intemporais...misturam-se Seres

DarkViolet disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Fiquei aqui a imaginar uma visão antiga, de onde os céus se transformam em instantes mínimos e tudo muda seguidamente. Tudo é novo e é velho. A Lua sobrevive a densa escuridão e os passos poucos são daqueles que conhecem os caminhos há tempos e seguem porque sabem que há luz em algum lugar do mundo. E passa o tempo, sempre ele, o tempo...
Abraços meus...

Ps. Confesso que eu gosto da escuridão, esse lado humano que os próprios humanos desconhecem...

Jo disse...

Ouve-se, este post...
:)

os ecos...


beijo*

MagnetikMoon disse...

Os ossários carregam libações e o trajecto é pó e ferida,esbatidos na infantil mortalidade dos ecos...

Magnetikiss;)

AFSC disse...

Muito bonito e interessante. Uma excelente melodia :)

Carla Ribeiro disse...

Belo e poderoso, um poema com uma imagem profunda e criativa. Gostei!

Anónimo disse...

Este poema eu já conheço :) Tem algo em que me reconhceço facilmente. Muitos beijos Nocturnus