terça-feira, 30 de setembro de 2008

Sépia


Momentos do passado.... Flashes que tentamos recordar, mas apenas surge algo enevoado, escassos momentos de lucidez, parcas lembranças... O nosso Iceberg não se quer lembrar de recordações incómodas, e opta por colocar um filtro graduado e excluir cenas...


Sabemos o que nos motiva e o que nos faz retrair, o que nos faz inchar de orgulho ou esconder nas sombras, as verdades e mentiras que vivemos e teatralizamos neste Acto. Somos os nossos próprios psicólogos com um automecanismo de defesa extraordinário.


Colorimos as imagens cinzentas que queremos embelezar, e colocamos a sépia instantes fugazes, mas.... Oh..... Lembras-te quando tirámos esta fotografia?


Lembras-te? Eu já me esqueci....


sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Estrada

Os corvos voam em círculo no céu
Pressentem a tempestade crua e morna
Dispo-me com excepção do véu
Que cobre a minha voluptuosa forma

Brotam lágrimas dos rios que correm
Em busca da liberdade que se afasta
As gaivotas fingem que morrem
Em honra da alma pura e casta

Cavaleiros errantes da alvorada
No frémito da batalha pelejam
Reluz cintilante a heróica espada
Cujo fio sangrento de morte beijam

Caminhamos vogando em luta constante
Com antigos fantasmas esquecidos
Percorremos a estrada da vida necromante
A fim de realizar os sonhos perdidos

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Despertar



Secreto, o teu sorriso inquieto

Faz despertar a minha fantasia.

Recordo o teu rosto e prometo

Não mais fugir da alegria...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Mãos Dadas




Faúlhas da fogueira se extinguem
sob o sopro da arcaica litania
temores inconfessos se diluem
Nos acordes dissonantes da melodia

Fantasmas austeros sem esperança
Vislumbra-se nas chamas ardentes
Não se aperceberam da mudança
Que os torna da vida ausentes

Ecoam no castelo encantado
Os acordes mágicos do violino
Extasio-me no prazer inusitado
Libertando o meu ego felino

De mãos dadas ao destino
Caminho sob o céu estrelado
És o meu prazer divino
Que deixou de ser envenenado

domingo, 21 de setembro de 2008

Imortal




Perco-me em devaneios estrelados
Límpidos como o reflexo do mar
Surgem na alvorada momentos rasgados
Que se libertam para não mais voltar

Palavras encadeadas pelo vento
Envolvem o coração em calor
Dores suspiradas ao longo do tempo
Navegam sem destino e sem temor

Soltam-se as vontades e as heresias
Baco e as Musas inspiram os poetas
Unem-se destinos e fantasias
Dando origem a portas entreabertas

A pureza ofusca o firmamento
Formando a aurora boreal
Procuramos em nós o momento
Que tornou o humano imortal

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Outono




A temperatura desceu. As manhãs acordam preguiçosamente, e o ritmo alucinante do dia-a-dia volta ao normal. As árvores foram gradualmente perdendo o tom verdejante, e as folhas receberam as pinceladas coloridas em tons de laranja e vermelho.


Eu adoro o Outono, mais talvez, do que qualquer outra estação. Não sei se por me aliciar convidativamente à introspecção, se por me proporcionar frequentemente ficar deitada a repousar entre braços aconchegantes, a ouvir as gotas de chuva que compõem bailado e sinfonia no telhado.


Antecipo o prazer de ficar placidamente enroscada no sofá, como uma gata siamesa, e saborear o mergulho na história de um bom livro. Ou o divagar por entre geniais criações alheias de palavras magicamente articuladas, e deixar-me imbuir com as várias interpretações do seu significado.


Talvez por isto e por tudo o que não consigo exprimir, esta seja uma estação que me aquece por dentro em contraste com o tempo que arrefece lá fora. Ao despertar nesta manhã cinzenta, sobressaio pelo vermelho que me incendeia, e a minha aura resplandece para ti.


Recordo com nostalgia os dias de sol à beira mar, e, dando-te a mão, caminhamos juntos nesta álea de tons quentes, em direcção a um amanhã instável e incerto, mas sorridente e esperançoso. Abraça-me. Porque a felicidade é construída a partir de todos estes pequenos momentos teus e meus. E eu já parti em busca dela.....

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Histórias por Contar




Empunho a minha pena, e faço-a deslizar suavemente no pergaminho. O aparo arranha levemente a sua superfície, produzindo um doce murmúrio de palavras sussurradas ao vento, procurando ser ouvidas pelos nossos olhos ávidos de aventuras e fogosas histórias de amores tristes. A pena vai contando a história das donzelas que não foram famosas, e cuja existência se pautou pelos sonhos não realizados.


Encerradas na escravidão das suas masmorras, jamais tiveram a coragem de rasgar os vestidos andrajosos, subir ao alto das suas torres e clamar ao vento os seus desejos. Jamais tiveram a ousadia de olhar para a luz ao cimo das escadas, ungir o seu cabelo de perfume e subir em direcção ao apogeu do baile. Jamais sequer tiveram a audácia de se olharem ao espelho, sorrirem e brindarem à sua beleza cativante.


Viveram como sombras, sem outra razão para existir senão serem o reflexo imperfeito e deformado das que brilhavam sob os archotes. A pena agita-se na minha mão, e impaciente urge em narrar as memórias esquecidas destas vidas melancólicas, pois as suas faces foram percorridas por lágrimas hesitantes e os seus lábios exalaram tépidos suspiros...


Nas pedras do castelo ressoam as lendas das verdadeiras histórias de amor que ficaram por contar.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Estava à tua Espera...



O silêncio preenche a sala, moldando a redundância do vazio. O core do tempo não para, palpitando compassadamente os segundos que não te vejo. A ténue obscuridade encerra o meu despertar, a minha paz, o meu equilíbrio. Eu gosto das sombras. Do poder latente da minha imaginação, e do que consigo criar a partir delas.

"...O toque suave das tuas mãos no meu corpo..."

A amálgama de possibilidades permitem-me ascender à utopia da realidade. Os conceitos que parametrizo e reinvento ganham uma nova dimensão, um novo significado, como se fossem animados de vontade própria, e cunhassem em mim o seu ímpeto.

"...A tua pele colada à minha, falando uma linguagem de sensações..."

A profusão de ideias gira e rodopia moldando-se até tomar forma no aqui, e no agora. Os pensamentos jorram em torrente criativa, aguardando o momento final de proficiência  És tu quem os nutre e fomenta ao desenvolvimento.

"...A química dos teus lábios no meu rosto..."

E é nesta existência imanente que o meu EU mais verdadeiro se liberta e expressa, colocando a descoberto a essência. Vislumbro a perspectiva real com novos olhos, novas cores, sem abdicar do cinzento que faz parte do meu arco-íris.

"...Os sussurros entrecortados no eco..."

Uma nova fase sem limites emerge ao ritmo de marés que desconheço, mas saboreio o deixar-me levar à deriva na espuma das ondas. Deixo a minha sã loucura eclodir concretizando fantasias: recordações nossas animadas em sombras projectadas pelas chamas...

"...Finalmente chegaste, estava à tua espera.... Vem..."

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Querer

Olhos inocentes repletos de ternura
Acordam inconscientes, saem da escuridão,
Buscam a luz numa azáfama irreal
Na demanda cega pela paixão.

Saboreiam as cores da vida
Como se tudo fosse a primeira vez,
Mas o passado já os marcou
Nas recordações do que alguém já fez.

Olhos brilhantes, astutos,
Olhos perdidos em busca de amor,
Nas notas do violino esvoaçam
Livres das prisões e da dor...

Olhos com aroma a maresia
Mergulham os meus em prazer,
Elevam-me ao sabor da melodia
Sorriem ao futuro do querer!

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Manipulações






Soam as pancadas de Molière.
Correm as cortinas, ilumina-se o palco,
Os holofotes focam
As marionetas inconscientes...
Como peças de um tabuleiro de xadrez
Movem-se os peões no jogo da vida,
Sem se questionar sobre o porquê.
Não sabem quem são, para onde vão,
Nem sabem o que vão fazer,
Simplesmente seguem o guião
Que alguém ousou escrever.
São manipulados pelo desejo
Induzidos por doces palavras alheias,
Seguindo uma trama de perdição,
Ou talvez não...
Acordo do sonho e sinto
As luzes a acariciar-me.
Declamo o meu texto na perfeição
Sendo congratulada
Com uma ovação de palmas.
A comunhão dos espectadores
Na profusão de sentimentos
Contraditórios, envolve
O auditório como uma brilhante
Teia diáfana de esplendor...
Os cordéis são puxados em tropel
Segundo o que está no papel,
Assisto do Balcão à peça erudita...
Os fios das marionetas são manipulados
Por mãos invisíveis,
E a peça continua....
Aguardam-se as cenas
Do próximo capítulo...

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Spiral Dance

As gotas de chuva
Percorrem a minha face
Enquanto o Outono desflora
A languidez da minha pele.
A lua brilha nos meus olhos
Inundando a minha alma,
Aprimorando cada sentido,
Cada sensação, cada êxtase...
O tapete de folhas rubras
Crepita sobre as minhas raízes,
Afasto-me em direcção ao nada
Que preenche os meus desejos.
Mergulho na profundidade da floresta...
Os salgueiros acolhem-me
Nos seus braços retorcidos
Embalando-me ao sabor
Da suave aragem que flutua
Nos recessos da minha mente,
Os meus ramos ondulam
Celebrando os Deuses Antigos,
Proclamam a sabedoria
Que os Homens tentaram desvanecer,
Os hinos ecoam nos meus ouvidos
Hoje, amanhã e sempre.
Eu sou a natureza perdida
O troar vibrante da tempestade,
O gelo que me aquece,
As trevas que sucedem
O crepúsculo num círculo vivo,
O divino multicolor espelhado
Na dança do renascimento,
A eterna espiral da vida...

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Abro Asas...




O tempo desdobra-se surreal
Manifestando o esplendor da criação,
Transcende a hipotética visão
Camuflada na verdade letal.


Imbuída na aparência real
Disfruto das ondas de emoção,
Abro asas para longe da solidão
Alcançando o espaço sideral.


Na eterna alvorada permaneço
Aguardando o momento final,
Fecho os olhos mas não esqueço,


Corro descalça no quente areal.
Imersa em esperança peço
Que a ilusão se torne real...

sábado, 6 de setembro de 2008

Futuro Incerto




Divago nas horas perdidas
Rumo a um futuro incerto,
Todas as possibilidades em aberto
À espera de serem vividas.

Coloco questões proibidas
Às esfinges do deserto:
Está a felicidade longe ou perto?
Debato-me com memórias esquecidas...

Não pertenço a este lugar,
Para te encontrar vou-me perder,
Melopeias loucas ecoam no ar

Aguardam o despertar do teu ser.
A viagem está prestes a iniciar
E ainda não aprendeste a viver...

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Silence


As palavras não proferidas aumentam o abismo.

Sonhos Perdidos





As fadas esvoaçam e o luar
Cintila discretamente na escuridão,
Um brilho fugaz
Que preenche o
Infinito dos meus sonhos,
Dando-lhe cor e magia.
Suavemente o pincel
Esboça um traço
Subtil de esperança
Fragilmente delineado...
O cinzelado vai ganhando
Contornos quentes e suaves
da minha fantasia perdida
em baús discretos.
Desembrulho os sonhos
Não realizados, tornando
A colocá-los na
Estante das possibilidades.
Sonhos antigos, modernos,
Simples, complexos...
Amplexos recalcados
Do ser tiranizado...
Elevas-me até aos
Meus sonhos perdidos?

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Lágrimas




Silêncio...

Saber ouvir o silêncio e

Captar as suas mensagens...

Olha-me nos olhos e

Diz-me o que vês...

Reconheces-me?

Silêncio...

A dor apodera-se novamente

E viajo para longe.

Longe de ti, longe de mim,

Longe de Nós...

Algures no espaço intemporal,

Em busca do meu eu perdido.

Silêncio...

Os olhos choram lágrimas invisíveis

Escondidas pela mágoa.

Da boca saem palavras mudas

Impregnadas de desalento.

É melhor mesmo que não as oiças.

As minhas mãos tocam

A lage fria, e abraçam

As rosas vermelhas.

Os espinhos rasgam-me a pele

E doces gotas de sangue

Escorrem envergonhadas

Pela pedra cinzenta.

A morte e a vida.

O ciclo eterno.

Sonho Indifuso

A realidade é obsoleta...
Fujo para o meu mundo encantado,
Flutuo para longe
Envolta em águas agitadas,
Procurando um refúgio
Onde retemperar as forças.
O sonho indifuso continua...
A chama etérea
Brilha mas não me aquece,
Os sons mudos querem
Contar-me os seus segredos,
Mas os meus ouvidos surdos
Não os conseguem perceber.
Tanto está ao nosso alcance
Mas não olhamos para o lado,
Recusamo-nos a ver
As mensagens que nos enviam,
E quando já é tarde
Chora-se sobre o leite derramado.
Eu acenei e não me viste,
Fiz uma fogueira,
Gritei, chorei, desesperei...
Agora refugio-me no meu mundo,
Onde estás?
Não te oiço...
Não te sinto...
Há tanto tempo...

Alguém...




Perco-me na profundidade do teu olhar, mas já não consigo acreditar na veracidade das frases que proferes... Que significado tem para ti afinal, as palavras salgadas de lágrimas? Agora? Que diferença faz o tempo? O que mudou entre o dia de hoje e tantos outros dias passados?


Infelizmente, eu mudei...


Há feridas que sangram, sangram invisível e lentamente, a vida vai-se esvaindo sem darmos conta, e a dor é tão grande que quase nos leva à loucura. A agonia constante de termos alguém ao lado e sentirmo-nos tão terrivelmente sós... De não existirem já centelhas que reluzam ao contacto.... Falta algo...


Um sentimento de vazio gélido vai ocupando o lugar das batidas frenéticas e ritmadas no meu peito. Falta-me o que para mim é como o ar que respiro, como a luz que me ilumina, como o sangue que me corre nas veias. Esse algo foi subtilmente desaparecendo, deixando-me mergulhada na escuridão. Tu transformaste-me, e por isso, infelizmente, eu mudei... E tens tu a coragem de perguntar porquê?????


Abraço a minha escuridão, o meu caos, o meu tudo e o meu nada. Mergulho nas minhas dúvidas para reencontrar as minhas certezas, e assim conseguir nadar até à superfície da minha alma em tempestade.


O carinho de que sinto falta, era impregnado de magia e de AMOR. Era algo vital que me nutria, me fazia sentir viva, mulher e feliz... Agora resta-me esperar que o gelo derreta, que o nevoeiro se dissolva, e as brumas que me protegem se dissipem.


Infelizmente, eu mudei...


E é tão mais fácil não sentir. A máscara e as muralhas de indiferença e insensibilidade são a defesa mais eficaz contra o sofrimento. Mas não fui eu que escolhi este caminho. É frustrante sentir-me desprovida do que considero o mais importante. Mas as vicissitudes da vida camuflaram a minha essência de fogo, e o meu incêndio foi apagado. A fase de rescaldo é lenta e dolorosa, mas tenho esperança que um dia, surja uma faúlha que reacenda a paixão incontrolável e me transforme em fénix renascida das cinzas.


A minha fortaleza tem brechas, mas só a pessoa certa saberá as palavras mágicas para penetrar no core sagrado, onde palpita expectante aquele pequeno rubi no pedestal... O dragão dourado jaz a seus pés, vigilante, pronto para devorar o incauto que se aproxime com o coração impuro. O tigre branco respira suavemente com o seu hálito nevado, mantendo as emoções inquietas numa dormência repousante. O gato preto repousa na sua almofada de cetim, e os seus olhos verdes brilham na escuridão. A falsidade ser-lhe-à rapidamente revelada, atacando o falsário com a rapidez letal do felino caçador.


A tríade repousa assim, aguardando que alguém com o seu sopro de vida impregnado de verdadeiro amor, confira ao rubi o brilho de outrora... Alguém que transforme aquele suave palpitar no trovejar electrizante dos relâmpagos... Alguém que aceite o pequeno rubi, e o ame por aquilo que ele é, sem o tentar transformar na miríade dos seus sonhos...


Alguém...

Pétalas de Rosa



Saborear cada pequeno momento,
Degustar cada lágrima de felicidade,
Viver de acordo com a vontade
Que nos ateia a alma, vivo rebento...

Ter cada pedaço de céu, pétalas de rosa,
Cada profundo suspiro, cada palpitação,
Sonhei com a terrena redenção
Ao alcance da humanidade reclusa...

Cada toque suave, cada alegre chilrear,
Cada regato cantando, cada paisagem,
Tudo me fazes viver e desejar...

Sem sair daqui inicio a deliciosa viagem
Que me preenche como nunca, sem hesitar
Mergulho no êxtase do teu olhar, profunda miragem...

11ABR00