domingo, 26 de outubro de 2008

Alma em Ascensão

Os estandartes cruzam os céus num perverso ondular, presságio de sangue, dor e lágrimas... O rufar dos tambores cadencia a marcha através dos campos, enquanto imagens de heroísmo perpassam nos olhos dos poucos camponeses que saem para ver passar os exércitos.

A Cruz Templária ergue-se, qual estrela guia dos bravos monges guerreiros.

Ao deixarem Tomar, uma aura mística apossou-se dos fervorosos cavaleiros de olhar tranquilo. O suave murmúrio das litanias instiga à conquista, elevando-lhes a alma em ascensão ao Criador.

O derradeiro olhar à alvorada que se apaga no último suspiro....

Gritam de euforia as espadas ansiosas pelo troar dos canhões e pelo frémito do entrechocar de metal. Homem contra Homem, espada contra espada, machado contra escudo. Os ruídos crescentes da batalha que se aproxima ecoam pelas fileiras, fazendo tremer a terra manchada de vermelho que os acolherá no seu seio.

O calor das fogueiras flamejantes do acampamento na noite passada, envolveram as almas gélidas num calor sobrenatural. Os olhos marejados recordavam as famílias que não tornariam a ver, e juras de uma morte santa eram proclamadas entre companheiros receosos do sofrimento da agonia.

O sol vai agora alto no céu, e avistam-se ao longe os exércitos inimigos. Ele dá sinal para pararem. O vento fustiga-lhe suavemente o rosto, como que num beijo terno de despedida. O destino aguarda-os.


"À Carga!!!!"

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Curvas Coloridas

Curvas sucedem-se sem se questionar porquê, rectas que se dobram transformando-se em esferas que jamais retornarão à origem. As formas sólidas emergentes, são memórias de movimentos esquecidos, pruridos nas deambulações sincopadas que jorram da vontade mutante.

As cores nascem do teu movimento, contagiadas pelo nada efervescente que surge da fusão do arco-íris. Assim nasces tu, do nada que brota flamejante do meu coração palpitante e sedento de emoções.

Apagaste as rectas da minha existência e curvaste a minha essência num eterno descobrir, coloriste o passado espelhado nos meus olhos num renascimento tardio de certezas.

Conjugaste o múltiplo despertar no verbo eterno do sentir. Do meu sentir.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Estavas Enganada

De mãos dadas ao desconhecido, envolvo-me no meu leito aconchegante.... Fecho os olhos para adormecer mais uma vez e fugir do presente. Fugir para o meu mundo de sonhos. Nada faz sentido, mas sinto-me bem nessa casa virada de pernas ao ar, em que acontecem as coisas mais estranhas e ninguém fica a olhar para trás, continuam sempre a andar.

Uma voz esganiçada e irritante martela o meu cérebro.

"Vês? Eu bem te disse que estavas enganada!"

Bolas, nem a milhares de quilómetros de distância me deixa sossegada! Sacudo fortemente a cabeça para a desalojar do cantinho em que se instalou. Que vá destabilizar para outro lado. Nunca lhe pedi a opinião, mas arranja sempre maneira de se tentar fazer ouvir.

As janelas do quarto abrem-se de par em par, furiosas também com a intrusão, e uma rajada de vento provocada por um bando de corvos arrebata-a e leva-a num turbilhão para bem longe. Ahhhhhhhh..... Que sossego..... Sem pensamentos nem vozes nem consciências que me atormentem. Fundo-me com a minha almofada e brinco com as nuvens que passam ao meu lado.

Aqui o despertador não toca, os jornais não chegam e as televisões não noticiam desastres e assassinatos. Nem os telemóveis me apoquentam.

As janelas fecham-se devolvendo ao meu quarto um odor inebriante a incenso da lua. Afinal era ela quem estava enganada. O meu quarto é o meu santuário, aqui, só me importunam se eu deixar.

Prémio Dardos



Antes de mais, um beijinho grande à maravilhosa escritora Marcia Barbieri, que me deu a honra de me atribuir este selo.

O que é o "Prémio Dardos":"Com o Prêmio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro mostra cada dia em seu empenho por transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, que de alguma forma demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras.


O Prêmio Dardos tem certas regras:
1. Aceitar exibir a distinta imagem (que está ao lado direito desta tela).
2. Linkar o blog do qual recebeu o prêmio.
3. Escolher quinze 15 blogs para entregar o "Prêmio Dardos. "

Ele deve ser passado a 15 outros bloggers, e assim sendo, carinhosamente, e agradecendo a todos por partilharem connosco a sua alma e arte, ofereço o Prémio Dardos a:

Acqua

As Ameias do Crepúsculo

Closure

Contemplativa

Crónicas da Peste

Esboços de Nus

Fios Dourados

Litle Black Book

Meia-Noite

Neo-Artes

Paradoxos

Pianistaboxeador21

Templo da Estátua Viva

Vertigens

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Bem, a semana parece iniciar-se com o pé direito... :)


Confesso que não estava à espera, mas foi uma surpresa muito agradável ter recebido o meu primeiro selo....


Vim parar à Blogosfera, porque comecei a ler as obras de arte um amigo que escreve muito bem, e apesar de eu escrever de uma forma completamente diferente senti saudades da minha veia de escritora que tinha ficado arrumada algures em baús cobertos de pó....


O meu primeiro poema (não tenho a certeza de lhe poder chamar assim) nasceu de um coração a sangrar, no meio de uma aula enfadonha de português.... Acho que frequentava o 9.º ano na altura.... Desde aí escrevi coisas que hoje ainda gosto, outras nem por isso, mas sempre encontrei na escrita uma forma de equilíbrio, de terapia.....


Pois é, encontrei-vos a todos, e devo dizer que vos faço a todos uma vénia! Uma grande vénia! Existem talentos desperdiçados por esse mundo fora, mas é tão salutar ter prazer no que se faz, e todos vós tendes prazer em escrever. Seja para meia dúzia de amigos, ou para milhares de desconhecidos da net, damos de nós, partilhamos delírios, loucuras, desaires, amor, sofrimento, opiniões.... Seja uma partilha pessoal ou umbiguista, deixa de o ser a partir do momento em que carregamos no "publicar", e ficamos receptivos aos comentários.....


Assim sendo, agradeço imenso à Acqua por este presente inesperado, e aos que me lêem, por aceitarem partilhar dos meus desabafos e fantasias....


Agora chegou a hora difícil de escolher.... Um beijo grande a todos, e especialmente esta singela oferta para a Goth Land & Lucifer's Kingdom; Hipérboles e Insanidades; In... Confidências; Ninharias; Psiquê e Terras de Gore.

sábado, 18 de outubro de 2008

Tejo Meu...



As Tágides nadam velozes, os meus olhos acompanham-nas até se perderem de vista. A lua redonda e cheia brilha no céu fazendo-me caminhar sem destino até à beira do promontório... Abraço-me, sentindo a brisa no coração...


Suaves melodias enfeitiçantes pairam no ar ao longo do rio, chamando pescadores e incautos, envolvendo-os numa rede invisível que os provoca e enlaça em ecos de murmúrios encantados. A imaginação pejada de alegorias derrama os simulacros pela vastidão da noite.


As ondas embalam-me, inundando a praia, o barco, a alma, e o espírito selvagem. Os meus olhos fechados contemplam odes de louvor, e o seu cântico purifica-me a alma marejada de sal...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Desilusão

Ela mordia o lábio inferior, concentrada no seu trabalho... As palavras ganhavam forma, letra a letra, redondinhas e bem desenhadas com tanto amor e orgulho! Seria uma surpresa extraordinária, a que Teresa daria à sua mãe...

Teresa era uma criança que tinha uma noção peculiar relativamente à passagem do tempo. Vivia no seu mundo próprio, que os crescidos apelidavam de "fantasia" e "imaginário", mas ela sabia-o bem real. Passava muito tempo a brincar sozinha, como filha única que era, e foi desenvolvendo uma faceta de exploradora. Numa dessas deambulações pela casa fez uma descoberta fantástica, um verdadeiro tesouro...

A sua preciosidade consistia num velho caderno forrado a veludo vermelho, cuja capa tinha sido bordada com ornamentadas letras douradas. Estava religiosamente guardado no fundo de um roupeiro bafiento com imensa roupa antiga. A curiosidade nata levou Teresa a folhear aquele estranho manuscrito. Intensos e delicados poemas de amor dançavam diante dos seus olhos, narrando uma história estrofe após estrofe.

A sua mãe ia ficar tão orgulhosa! Copiar palavras bonitas e complicadas com uma caligrafia perfeita.... Sim, porque aquele caderno devia ser muito importante para estar assim tão bem guardado...

Paciente e afincadamente, desenhava com cuidado cada letra, para ser um presente perfeito. Teresa sabia que a mãe não tinha muito tempo para brincar com ela, mas assim era a vida. Na sua sensatez de 7 anos de idade, compreendia muitas coisas, muitas além das que comentava. As gotas de suor corriam-lhe pela testa sem que se apercebesse.

Pronto!!! Teresa rodopiou feliz abraçada aos seus versos. Cuidadosamente dobrou a cópia, colocou-a num envelope, desenhou um grande coração e depositou-o em cima da almofada da mãe. Entretanto foi fazer os trabalhos de casa e arrumar o seu quarto, para não estar presente quando a mãe visse o envelope. Estava ansiosa por receber um beijo e abraço carinhosos, mas foi-se distraindo com os seus afazeres. Passado algum tempo, a porta do seu quarto abre-se com brusquidão.


"Quem te deu o direito de ires mexer nas minhas coisas? Onde está?"


Uma mão furiosa acerta-lhe no rosto ainda não refeito da surpresa.


"Nunca mais! Ouviste bem? Nunca mais te atrevas! Estás de castigo sua intrometida!"


A mãe agarra no caderno que estava pousado em cima da sua secretária, atira-lhe as suas folhas para o lixo, e sai do quarto batendo com a porta.


As lágrimas gritam a dor que a voz de Teresa não consegue clamar. De certeza que a mãe não leu até ao fim, não leu a dedicatória que ela tinha escrito. A culpa foi dela, devia tê-la colocado no início do poema. Nunca iria fazer nada suficientemente bem .... Nunca.....


Hoje, com 22 anos, nada mudou.



quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Samhaim


A mãe Terra acolhe e fortalece os seus filhos dando-lhes energia para viver, amar, sofrer, e continuar a ter esperança, a recomeçar de novo, uma e outra vez. Os espíritos dos Antigos acompanham-nos e deixam pequenos sinais, subtis pistas apenas visíveis para aqueles que realmente desejam VER.

De que adianta navegar oceanos ou cruzar céus em busca da felicidade, se não a reconhecemos quando ela está perante os nossos olhos, sentada ao nosso lado?

Sentada num banco de jardim, escrevo as palavras sussurradas pelo vento que agita os ramos das árvores e brinca com o meu cabelo, fazendo-o ondular rebelde e pleno de vida... As folhas caem tendo já vivido e desfrutado a sua estação. Rodopiam suavemente, flutuando até pousarem na terra fértil que se prepara para os rigores do Inverno.

O início do novo Ano aproxima-se, aquela altura mágica de fins e novas etapas. Não, não é uma brincadeira de crianças com abóboras iluminadas, nem um baile de máscaras assustadoras e personagens fantásticas; é a metáfora da nossa existência, a descida ao submundo no dia em que a linha que nos separa é mais ténue.

Tudo o que nos rodeia entoa hinos, e eu ergo a voz enquadrando-me na melodia sagrada da natureza...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

There is no Hell




Não existem seres destinados à luz ou às sombras....
Os demónios podem surgir como anjos de um visual invulgar.
O preconceito limita-nos, retirai pois a venda dos olhos e logo surgem os lobos em pele de cordeiro....

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O Meu Céu

Olhos perdidos no horizonte
Vagueiam por terras sem fim
Sede mergulhada na fonte
Salpicada de carmesim

Caminhada sinuosa
Através da luz apagada
Inspiro a noite em prosa
Soltando poesia iluminada

Pinto o meu céu
Da cor que envolve o ser
Dispo a tristeza no véu
Que instila a mente de prazer

terça-feira, 7 de outubro de 2008

A Kiss For You



Dedos entrelaçados
Fundem-se num beijo
Olhos enfeitiçados
Arfam de desejo

Emerge a paixão
Iludindo a falsidade
Entra o ser em ebulição
Gemendo de saudade

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Vejo-me...






As lágrimas que espalhei ao vento, voltaram nas tuas carícias salgadas, nesta intensa dualidade de ser e de sentir.... No amar sem limites e entregar-me sem reservas.... Olho-me ao espelho nos teus olhos, e finalmente vejo-me...