quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Acorda...



Acorda,
Para a realidade que nos alcança
Num subtil amanhecer,
Rompendo as amarras invisíveis
De quem se recusa a sonhar.
Saboreia as lágrimas cruas
Que a paixão negou sentir,
Eliminando a distância
No sorriso proibido do ousar.
Sente a tristeza que se afoga na dor
E o grito de desespero
Que acorda a inquietude
Percorrendo o mundo
Sem temor ou medo…
Acorda o sonho que
Desponta na noite austera,
O pensamento que viaja
Libertando o adeus que se afasta,
A alegria que penetra na escuridão,
Que se abraça e se partilha,
A mágoa que se esconde e enterra
Que vive na penumbra,
Na ferida que não sara.
Acorda o herói e o vilão que
Navegam sem rumo ou destino,
Buscando a verdade
Nas vicissitudes da ilusão…
Acorda o amor que
Oblitera a razão,
E nos faz sentir vivos
Na loucura que nos consome...
Acorda a esperança
Que ilumina o degredo,
Dissipa o nevoeiro
Que adormece o sentimento
E rasga o cativeiro
Que nos roubou a alma.
Acorda…

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Doce Despertar




Sombras de memória ardente vagueiam na bruma indifusa que a aurora procura esconder. O aroma a pétalas de rosa está impregnado nos meus cabelos e o meu corpo saboreia ainda o abraço lânguido da partilha extasiada…

Fecho os olhos e ainda sinto o teu sabor na minha boca, que perdura mesmo após a magia do luar se ter desvanecido, e se acentua nos detalhes dos sonhos que nos envolveram.

Desperto, mas as palavras que sussurraste, sinto-as invisíveis, tatuadas a ferro e fogo na minha pele. Na tua pele. Como o meu toque nas tuas carícias. Como as minhas lágrimas nos teus olhos e o teu brilho no meu sorriso.

Acordei, mas o sonho não se esfumou no despertar, e tu respiras através de mim, vibras com a música que me percorre os sentidos e eu sinto a nossa energia propagar-se no infinito…

No teu abraço sonho acordada, vejo a fantasia transformar-se na nossa realidade.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Will You Come With Me?


O céu violeta escurece rapidamente, e as estrelas vão acordando uma a uma, preenchendo o céu como uma doce poesia. Os ruídos da floresta vêm até mim, avançando passo a passo, e colorindo a minha noite com o sussurrar mágico de quem busca o seu eu perdido, receando no entanto a visão do rosto há muito esquecido….

De olhos fechados, inspiro os aromas de fragrâncias antigas, que me preenchem a alma, e trazem lembranças de um brilho que outrora pulsou vibrante em mim.

Corujas, mochos e lobos, compõem a sua melodia envolvente, trazendo-me partículas de rosas e violinos, de lua e oceano, de amor e ódio, de saudade e luxúria, de paixão e incerteza, ateando o crepitar doce da fogueira que arde no meu peito….

O vestido de cetim rendado é afastado com ansiedade, enquanto elevo os braços aos céus e rodopio sem cessar numa entrega aos sonhos que deixei para trás. Só eles me preenchem o vazio, e a insatisfação, só eles me chamam pelo meu nome, só eles me ouvem e me compreendem, só eles me aceitam na pureza da minha loucura…

A porta está entreaberta, e com um passo apenas deambulo entre a rotina bem comportada e o desconhecido que me deslumbra.

Um gesto, um som, um sorriso, uma lágrima…… Elos perdidos que me fixam do outro lado do espelho, à minha espera….

Ousas vir comigo?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Olhar


Olhos fixos no nada,
Sonhadores, perdidos...
De malícia despidos
Aguardando a alvorada.

Olhos de alma magoada
Em busca de prazeres esquecidos,
Expressam os gemidos
Que percorrem a madrugada...

A luz envolvente de tentação
Que arde nesse teu olhar,
É grade invisível da prisão

Que me fizeste abraçar...
Perco-me no abismo da imensidão
Que o teu vazio me faz desejar.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Muralha Invisível


Solitária, contemplas da janela os caminhos sinuosos que rasgam os prados verdejantes em direcção à tua torre.

Na penumbra do quarto, olhas em direcção à janela e avanças para ela como que hipnotizada pelos raios de luz que penetram a obscuridade.

Abres a janela de par em par, avanças hesitante, e fechas os olhos saboreando a aragem quente que te envolve em sorrisos lânguidos de crepúsculo... Qual bailado da alma que te estende a mão invisível, ansiosa pelo toque suave que se adivinha no sorriso do olhar…

Mas oh…….. A aragem acaricia-te o cabelo, e enrubescida de tamanha ousadia o teu olhar retrai-se, subsistindo apenas a essência do perfume que oscila no ar.

Chegam aos ouvidos murmúrios de palavras doces e misteriosas, mas os teus olhos não conseguem ver para além das máscaras insensíveis e de ar distante… Desiludida, envolves a tua torre em bruma e nevoeiro, embora seja difícil resistir à atracção pela luz colorida que teima em querer romper a penumbra. 

Entreabres momentaneamente as cortinas de fumo, aspirando avidamente o sabor da vida, enquanto espirais de vermelho te presenteiam com suspiros. Vacilas, ante a expectativa de voltar a sentir, de voltar a saborear, de sair da redoma em que te refugiaste.... 

Encerraste-te num mundo a preto e branco, mas sabes, o arco-íris continua à tua espera….

quinta-feira, 5 de março de 2009

Doze Anos

Doze, as badaladas
Que oiço palpitar no meu peito,
Cada compasso um beijo,
cada nota um sorriso...
 
Doze, as horas
Que aguardo o reencontro,
Que anseio pelo toque
Que se prolonga em abraço...
 
Doze, os meses
De fogo que irrompe das cinzas,
De entrega total
Ao nada que faz sentido...
 
Doze, os anos
Que a vida relembra
mas a alma celebra
E saboreia num suspiro...



terça-feira, 3 de março de 2009

Oculto



O sol ofuscante brilha no deserto. Os elementos sucedem-se em harmonia vibrante, qual tesouro expectante, ansiando por ser descoberto.

O vento sopra irrequieto, e na sua dança graciosa afasta a areia que camuflava os mistérios. Palavras esquecidas surgem, qual aparição de contornos, impressa na pedra imutável.

A água serpenteante que alimenta o oásis escolhe o seu próprio leito, e corre atraída pela assimetria voluntariosa, pelo passado sobre o qual havia sido colocado um denso véu.

Os felinos adormecidos despertaram da ilusão, e o leão faz estremecer o solo a cada passo. Todos anseiam deixar-se conduzir pelas ondas de energia hipnótica, mas o receio aniquila os passos vacilantes de quem teme errar.

Podem soprar vendavais, formarem-se tempestades, cobrir-se céu e terra de lamentos mudos, oceanos conquistarem a terra ou o fogo consumir as árvores…

Visíveis ou invisíveis, os ícones indeléveis acordarão a cada visão, fazendo despertar o fogo do dragão que cruza os céus buscando a liberdade…

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Emoções




Os teus olhos incandescentes consomem-me na escuridão. A inquietude irracional que percorre o meu corpo a cada pensamento, aproxima-se perigosamente...


Segredas-me no silêncio de murmúrios, carícias de ecos perdidos na imensidão dos sonhos que ambicionaste para nós... O teu misterioso silêncio que me invadia e atormentava na expressão do teu singular olhar, na expectactiva do receio... Paralisas-me o raciocínio, serão as emoções que vi espelhadas, arroubos de imaginação?


Sim, deliro... Com o passado que não existiu, com o presente ambíguo e o futuro indefinível...


Afasto-me da falésia com o seu mar vivo e revolto que clama pelo meu nome, e recuo de volta à floresta. O oceano descontrolado é muitas vezes um tumulto sem retorno, enquanto que a fogueira aconchegante que crepita na clareira aguarda o meu regresso...


No entanto o mar continua a atrair-me hipnotizada, e admiro-o de longe.... Desejo mergulhar nas suas águas e ser como uma gaivota livre que paira no céu com as suas asas abertas, cobertas de sal....


Sim, porque há momentos em que ainda é possível recomeçar com um sorriso...