O violino chora a cadência que me embala esta noite...
Ao longe, oiço o som de passos indistintos, escondidos na bruma, que vagueiam em redor sem no entanto se aproximarem...
O sino toca e as badaladas ecoam na noite. A Lua ilumina palidamente as árvores, escondendo-se nas nuvens plúmbeas a cada suspiro meu.
O violino hipnotiza, canta e encanta, geme e estremece, emocionando a aragem que vagueia na noite estrelada, propagando a sua melopeia através do tempo...
Danço ao som da cadência que me embala, de mãos dadas aos sonhos que me preenchem a solidão.
Através da janela entreaberta, o luar acaricia-me a pele, timidamente, os meus olhos reflectem um sorriso imaginário e longínquo enquanto os lábios te chamam a meia voz... Para que me embales esta noite...
O que faço eu com esta vertigem Sem nome? Com esta saudade emergente Do nada? Com esta incerteza em busca De significado? Com as palavras que se escondem No silêncio?
O sono tarda em chegar
E a mente deambula
Por vales perdidos,
Dos quais resgatei
Sonhos estrelados
Que acalento na fogueira
Que me arde no peito...
Vogam as lembranças
Em escunas sem porto de destino,
Lutam contra a maré
Que as arrasta lentamente
Para a intempérie do limbo,
Onde tudo se esconde e
Nada volta à vida,
Nada se concretiza e
Tudo estagna na razão
Assertiva do comodismo...
Amorfa, a luz debate-se
Para atravessar a cortina
Que nos separa do azul celeste,
Da esperança que renasce
A cada madrugada
Nas cinzas da terra
Que alimentam a génese...
O Vidro que nos separa
Quebra-se em mil pedaços,
Lançando-nos no vórtice.
O frio percorre os recantos esquecidos em busca de companhia, mas o espectro que surge no teu lugar não demonstra ter consciência da solidão que se propaga lentamente nas sombras do Inverno perene que me consome.
Os trinados melódicos das aves emudeceram sob o manto nevado do crepúsculo, as flores jazem desprovidas de cor e de alma em compartimentos poeirentos de abandono, as árvores despidas vislumbram-se nas áleas brancas a perder de vista, enquanto o tempo escoa lentamente através das nuvens que salpicam o firmamento outrora estrelado.