A vela solitária arde debilmente, projetando sombras nas paredes brancas e nuas do quarto frio, e nos móveis sóbrios de ébano, que relembram épocas de outrora, quando a melancolia se achava dispersa e a saudade era apenas uma miragem.
Perpassa pela janela, a claridade pálida da lua, fazendo emanar dos escassos objetos que decoram a divisão, uma luminescência etérea... Como se não estivessem mais aqui, mas fossem apenas a memória abandonada de recordações tão intensas, que impregnaram o espaço e o tempo com a sua presença.
A tremeluzente chama da vela revela-se ineficaz.... Não lhe aquece o coração, não lhe ilumina o olhar, não diminui o frio que se apoderou da noite nem das cinzas esquecidas na lareira apagada..... As lágrimas do céu escorrem pelas vidraças, num bailado que preenche o silêncio e a aragem gélida penetra através de cada fissura, de cada espaço deixado vazio, de cada ausência.
Ela jaz, deitada no leito, inerte, de olhos fixos no nada que a rodeia, sem temor ou expetativas. Ao longe fazem-se ouvir os animais da floresta, vigilantes, companheiros fieis de longas vigílias. Ela sabe que não está sozinha. A névoa adensa-se no quarto, abraçando o vazio.
Neste vazio, ela é eterna.
2 comentários:
Parabéns por este excelente texto que me disse tanto...
Um beijinho *
Já não vinha aqui há tempo demais * Miss u *
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